Saturday, January 28, 2006

Poema de siete faces (o lost en translation)

Cuando nací, un ángel torcido
de esos que viven en la sombra
dijo: Va, Carlos! ser gauche en la vida.

Las casas espíam los hombres
que corren atrás de mujeres.
La tarde tal vez fuera azul,
no hubiera tantos anhelos.

El tranvía pasa lleno de piernas:
piernas blancas negras amarillas.
Para que tanta pierna, mi Dios, pregunta mi corazón.
Sin embargo mis ojos
no preguntan nada.

El hombre atrás del bigote
es serio, simple y fuerte.
Casi no habla.
Tiene pocos, raros amigos
el hombre atrás de las gafas y del bigote,

Mi Dios, por qué me abandonaste
se sabías que yo no era Dios
se sabías que yo era débil.

Mundo mundo vasto mundo,
si yo me llamara Raimundo
sería una rima, no sería una solución.
Mundo mundo vasto mundo,
más vasto es mi corazón.

Yo no debía decirte
pero esa luna
pero ese coñac
botan a uno conmovido como el diablo


****
Voltei hoje a Palermo. As ruas de adoquinis, as lojas em remarcação (trouxe para casa uma blusa linda, fresca, e uma verde, que raramente usarei). Palermo sábado pela manhã ainda é melhor que à tarde, quando há mais gente. "No te angusties!". O imperativo é engraçado. A frase é como "relaxa!" ou "durma!" ou "pare de sofrer!". Quando me dizem, sorrio pela intenção e me banho de cinismo. Duvido ao comprar um presente, mania de querer decifrar todo mundo, em dois tempos, ainda mais em outra língua. Eu nunca vou saber. Qual o problema se eu não entender. Como ela disse, eu assumo coisas demais. Comprei.

***

A palavra decifrar me trouxe, de imediato, uma lembrança do meu pai. Domingo de sol, no clube em Canindé, eu tinha 13 anos. Lia jornais aos domingos, com ele. Eu sempre acho que ler junto é amar, até hoje. Sobrevalorizo, sobrevalorizo...
Por essa época eu tinha um amor platônico e um maiô laranja, que combinava com uma canga laranja e um batom de tom laranja.
(só depois de grande, há uns dois anos, eu aprendi a gostar laranjada, a conviver com os pedacinhos, sem cuar. me apresentaram alcachofra, gostei. terminarei minha vida chupando uma manga, em deleite. tomei laranjada ao sol hoje, de biquini vermelho, num parque da Recoleta).
No meu amor, cabia um segredo. O eleito era um filho de um amigo do meu pai, odiado por minha mãe, que só aparecia nos finais de semana, no clube. Engraçado, não me vejo assim, nunca me vi assim. Mas na minha casa, eu tinha uma áurea de mistério, alguém que não conta tudo nem é transparente, "danada" (ah, os mineirimos, tão sobrecarregados de sentido).
Neste domingo, meu pai chegou ao clube com o jornal e, _minha lembrança, depois de cinco anos de terapia, não é mais algo isento. E disse: "Você é como a esfinge de Édipo: 'Decifra-me ou te devoro'". Eu ri, ensaiei me defender. Eu que me acho muito simples, muito fácil de entender, de me acompanhar, de quereres fáceis, interessada rápido, amável, ao ponto do previsível. Mas para ele, não. Eu, afinal, tinha segredos femininos. Que ele, alguns deles, conhecia. Apoiava meu amor platônico, secretamente e cúmplice. Me dava informações.
Um dedo por suas opiniões, depois do cuidado e do praxe celoso, sobre minha vida, sobre os homens depois do Theodoro. Diz-se na minha casa que meu pai veio uma vez a Buenos Aires.

***
Ainda sei de cor o acróstico que fiz em homenagem aos domingos no clube.

Terá Deus predileção por algum dia
Hoje amanhã, sábado quem sabe?
Embora todos tenham o sol que irradia
Ó domingo de alegria nunca acabe
Dourado seja seu lindo por-do-sol
O maestro que rege o ano inteiro
Revela sua ópera ao tarol
Ostenta teu personagem matreiro

***
2046 ou se quemo con leche, ahora ve una vaca y llora

O [a idéia de] amor me põe tão simples, íntima. O Amauri tem razão. O texto do Jabor é melhor que o filme. Ou, melhor, ainda estou mais à vontade para ler o texto do que para ficar tempos em frente à televisão, bebendo champanhe, tudo vermelho, tudo se sobrepondo e se repetindo, ansiosa pelas imagens completas, tonta.
In love you can't bring on a substitute
I have a secret to tell you. Will you leave with me? Voy a te contar un secreto: vámonos juntos?

Tudo isso na noite de Natal, noche buena, com Nat King Cole e vestidos com brilho, que sobem até o pescoço.
I once fell in love with someone. I couldn't stop wondering if she loved me back/
Take care. Maybe one day you'll escape your past. If you do, look for me

Não há que ter medo de ir a 2046. É a única chance de tentar escapar. Às vezes, não sara nunca, às vezes, sara amanhã. Às vezes parece que sarou. Às vezes, é leite quente, é vaca.
Por isso, eu li: "Lo bello y lo triste", do Kawabata, e lerei "Educação Sentimental", do Flaubert, "As relações perigosas" e comprarei um disco do Nat King Cole.

***

A Ligia tem me ensinado muitas coisas.

1 Comments:

Blogger L. said...

tanto a dizer, e vou ser simples:

. também acho que ler junto é amar.
. você é imprescindível.
. 2006: guerrear, amar, gozar. Meus votos.

9:25 PM  

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