Saturday, January 28, 2006

Ainda



Vou comprar um cd do Nat King Cole, uma caixa se houver. É um presente de mim para meu pai e dele para mim. Hoje é o dia internacional da saudade dele, ou é o dia que eu encaro o debate (mais uma vez, o papel da Ligia, importante, dar a cara a tapa, afinal). Está aqui a minha: imagino nós dois na Corrientes, nos sebos. Me magoa que ele não tenha tido dinheiro, me magoa. Para ele, e para nós.
E eu fiquei lembrando do short branco que ele me deu, curto, com bolsos. Pus no mesmo dia, o dia em que ele morreu. O interesse genuíno por minhas histórias de colégio, por meus amigos, os apelidos que criávamos. Eu criadora de caso, insubordinada. A repreensão quase orgulhosa: "Dê uma folga para a diretora, meu bem". E sorríamos, cúmplices.


***

Diadorim


Sou diferente de todo mundo. Meu pai disse que eu careço ser diferente, muito diferente.

Trago Diadorim comigo: Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins – que nasceu para o dever de guerrear e nunca ter medo, e mais para muito amar, sem gozo de amor... .

Ela queria o gozo, só não teve tempo.

Riobaldo, cumprir de nossa vingança vem perto... Daí, quando tudo estiver repago e refeito, um segredo, uma coisa, vou contar a você ...

Eu não me conformo do livro não ser uma mega-produção de cinema. É uma história emocionante, universal. Sertão.

Eu conheci! Como em todo o tempo antes eu não contei ao senhor - e mercê peço: - mas para o senhor divulgar comigo, a par, justo o travo de tanto segredo, sabendo somente no átimo em que eu também só soube (...) Que Diadorim era o corpo de uma mulher, moça perfeita."

***

Nesta tarde de calor, muito calor, neste sábado eu soube: na sombra do seu olhar, eu sou inteira. E mais bonita e mais inteligente. Tenho mistérios e mereço o amor. É possível guerrear, amar e gozar. Essa é a diferença que eu não entendia. Não a toda hora. Há trabalho adiante. Há trabalho. Não há vingança em curso. Quando encontrá-lo, contarei meu segredo.

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