Wednesday, February 15, 2006

paralelismos

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PEQUENO, MIUDO, QUASE NADA

Dos quadris estreitos vem a dor do que não é.
Olha o sangue...
Não é escarlate: marrom, da cor do tempo.

Detesto tanto e mais o que o meu corpo deseja, os artigos definidos,
os possessivos. Detesto tanto e mais o que minha língua traz em gosto
e palavra, e o que o ouvido guarda.

Eu escuto bem o que está escrito, que ressoa, ressoa. (O que vai na
mente é voz, cheiro, dor ou idéia? Ou é apenas cor, objeto e letra
após letras após letra?)

Se eu olhar com bastante atenção no espelho embaçado, enxergo as
punhaladas no ventre - tão reais. Estímulo visual: assim surge o
mundo. E a temperatura. O corpo de menina - que diz, mudo, apenas Não.

Leia o que dizem meus quadris, meus ossos-fortaleza (estalam quando em
perigo). Há palavras brotando de todos os poros, cavidades, de todos
os buracos do meu corpo. Junte as mãos em concha, por favor, recolha
algumas.

Hoje eu mordi uma fruta muito úmida, deixei o sumo, amarelo
transparente, me escorrer pelo queixo, pescoço, colo.
Hoje, como ainda sempre, a vida vazou de mim.

(ligia diniz)

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